Maquinária 2009 - Um evento memorável

domingo, 15 de novembro de 2009

MAQUINÁRIA FESTIVAL
Por Felipe Motta

Os festivais são sempre muito comemorados e aguardados, principalmente no Brasil. Qual seria a característica mais interessante de um festival? Assistir mais de um show no mesmo dia e, de preferência, grandes bandas no mesmo lugar. Bom! Se essa é a idéia de um festival, o Maquinária, portanto, soube colocar o que há de melhor em prática. Começou discretamente no Espaço das Americas, na sua primeira edição em 2008, reunindo bandas como Misfits e Sepultura, teve alguns detalhes negativos, nada fora do comum para a estréia, mas reuniu uma galera de peso num evento de porte internacional.

Em 2009, com mais experiência e vontade de ser grande, a organização caprichou não apenas no casting, mas na estrutura preparada para receber um público exigente e sedento por ver as bandas preferidas. Antes de entrar no mérito BANDAS, quero abrir espaço para observações com relação à proposta, preparação e execução do projeto.

Não é novidade para ninguém que no nosso país as coisas relacionadas a cultura, arte e principalmente MÚSICA, são mais difíceis do que o normal. Muita burocracia, muita política e zero preocupação com quem realmente interessa, o fã. Concordo que a escolha do local não foi a mais apropriada: no que diz respeito a logística de transporte, a Chácara do Joquei não é o lugar mais acessível de São Paulo [Quase nenhum lugar é, levando em consideração o nosso trânsito caótico] e para os que foram pela primeira vez, provavelmente, encontraram dificuldades. Agora, pensando no local em si, a arena preparada para os show, ai sim a escolha faz sentido. A organização começa na porta, conferência de ingressos, postura dos seguranças com o público, indicação dos locais e etc. Como em qualquer outro evento, o grande problema para quem se desloca de carro são os preços abusivos e a falta de opções na hora de estacionar, mas entrariamos numa discussão longa.
A primeira impressão que tive quando cheguei na arena dos palcos foi a disposição, nada de palco principal no pedestal e o palco alternativo numa tenda escondida, NADA DISSO, um palco de frente para o outro e o público no meio. Esse aspecto não deixou que as atrações fossem subjulgadas, a opção ficou a cargo de quem estava lá. Um detalhe negativo observado em muitos festivais, quando conta com muitas bandas, é o horário. Comigo não será diferente, vou falar do horário, mas dessa vez para elogiar, as bandas entraram no horário e sincronizadas. O Maquinária contou com o palco principal e o palco Myspace, onde as bandas independentes mostraram o seu trabalho. Assim que a banda no palco "principal" encerrava, a banda do outro lado já começava a sua apresentação.

Devo ressaltar aqui a minha visão parcial do evento, pois o mesmo contou com dois dias de shows e eu só compareci no primeiro dia, mesmo assim, observei grandes potenciais nesse evento que, segundo foi anunciado, poderá contar com uma terceira edição em 2010. Acredito ser importante abrir espaço para bandas independentes em eventos desse porte, mas tenho uma observação a fazer:

Abrir espaço para bandas de menor projeção, OK! Deixar bandas nacionais de grande importância em segundo plano, ERRADO. Sim, eu estou falando do Sepultura. Assim como muitos devem pensar, a banda na ativa hoje não é a mesma que se consagrou no mercado internacional e abriu espaço para muitas outras, mas não acredito ser correto coloca-la em meio a atrações internacionais do porte de Deftones e Faith No More.

Calma! Calma! Não estou dizendo que uma é mais do que a outra, mas se formos pesar a frequência em que podemos conferir o Sepultura ao vivo e as duas bandas citadas, provavelmente teremos um resultado a favor das bandas gringas, e não é essa a intenção. Se o Sepultura vai participar de um festival, que seja Headline e outras bandas de menor projeção toquem antes. A história e o nome da banda devem ser respeitados.

Agora entramos no casting internacional e a organização do festival conseguiu reunir três bandas consideradas riscadas do mapa. É isso mesmo! o Deftones teve um sério problema com o baixista, hospitalizado devido a um sério acidente de carro no ano passado,;o Jane´s Addicition era considerada uma banda acabada [apesar de não ser muito fã do Jane´s, ao menos a menção tinha de ser feita, essa é a última que farei nesse texto]; e o Faith No More que estava em hiato desde 1998, praticamente sem previsão de volta não era esperada nem na gringa para possíveis shows.

E aqui estavam elas, ao vivo e a cores senhores. O Deftones pode ser considerada pelos mais extremos como "New Metal", mas em defesa dos fãs e em forma de alerta para os que pouco conhecem a banda, procurem algum registro dos caras ao vivo, o dito Nu Metal pode estar presente na afinação e na preferência das sete cordas, mas com certeza o METAL está presente e isso não há como negar. A energia dos caras no palco é impressionante. Mesmo desfalcados [Chi Cheng, baixista original ainda está hospitalizado] esses californianos mostraram para que vieram. Às 17:40, eles subiram ao palco e oficializaram o sucesso de uma noite histórica com um repertório recheado dos clássicos e algumas músicas que faltaram na última apresentação de 2007, num dia quente e enssolarado de sábado. Confesso nunca ter visto uma banda gringa tocar durante o dia e devo dizer que corre o risco de ser mais legal do que nos palcos iluminados e produzidos a que estamos acostumados.

Depois de um show forte, candidato ao melhor do dia, com direito a Chino Moreno (vocalista do Deftones) na grade entoando junto com o público "Hexagram", só restava esperar o tão aguardado Faith No More. O relógio marcava 21:00 e a ansiedade era quase incontrolável, para piorar ainda mais, uma chuva fina começa e os técnicos da banda que já passavam o som, começam a cobrir os equipamentos. O primeiro pensamento é; "Não acredito que o show mais aguardado vai ser atrapalhado pela chuva", sim porque, depois de um dia de céu azul e sol forte só podia chover e não parar mais, ainda mais em se tratando de São Paulo.

Pessimismos a parte, a chuva logo diminuiu e já era possível ver Mike Bordim (baterista do Faith No More) ajustando os últimos detalhes. O show estava marcado para às 21:30 e às 21:29 as luzes do palco se apagaram e já era possível ouvir os primeiros acordes de "Reunited", cover da banda Peaches & Herb, música que marcou a volta dos caras aos palcos. Ainda com as luzes apagadas, a banda continua na introdução da música quando, vestindo um terno vermelho, óculos escuros, bengala e um guarda-chuva entra no palco o monstro Mike Patton (vocalista e líder do Faith No More).

Com os berros insanos dos presentes quase passa desapercebida a fusão entre o fim do cover e a esmagadora "From Out Of Nowhere" (clássica do álbum The Real Thing de 1989) e a partir daí uma viagem nos maiores clássicos da banda e mais um marco na história da música, pois com toda certeza, essa banda não volta para o Brasil tão cedo, ou diria, NUNCA MAIS. Mike Patton fez questão de falar em português, meio esquisito e com sotaque, mas se esforçou. Tirou sarro deles mesmos ao dizer que estavam velhinhos e precisavam descansar, e claro, não perdeu a chance de sacanear com a chuva, dizendo que estavamos todos molhados, enquanto eles estavam secos. Repleto de loucura no palco, grunidos e sons indescritíveis, levou a noite muito à vontade.

O mais incrível era ver a banda acompanhando a insanidade de Patton, não em gestos, mas garantindo o acompanhamento sonoro. Repetindo o feito da última apresentação dos caras no país, tocaram "Evidence" cantada em português, nesse momento, se fechar os olhos, não sabe se está no show do Faith No More ou de uma banda portuguesa cover deles. Como já é tradição, fizeram dois BIS e se despediram do Brasil testemunhados por um público praticamente em transe.

Volto a alertar os apreciadores não só de Rock, não só de Metal, mas de música. Essa noite entrou para a história e será repetida nas rodas de bares e causos não só de quem presenciou, mas daqueles cujo o valor da música nas suas vidas, ultrapassa preconceitos e determinações estilísticas. Além da valorização, exagerada inclusive, feita por mim com relação a esse dia, é muito bom saber que o Brasil ainda é rota obrigatória da música. E essas meus caros, não são apenas palavras de um reles apresentador, e sim, dos artistas de que tanto falamos, aqueles capazes de transformar melodias em trilha sonora para nossas vidas, sim, ELES repetem e não cansam de dizer o quanto o público brasileiro é diferente, devolve energia, é apaixonado e apaixonante, até louco por vezes, mas com certeza aptos a transformar um show num espetáculo e fazer com que os gringos enxerguem o quanto somos intensos e gigantes por natureza.


FELIPE MOTTA

REPORTÁRIO
APRESENTADORO
METALSPLASH

0 Metalsplashers: