Há quem diga que King Diamond é mais um que segue uma fórmula pronta para compor e gravar seus discos. Se isso é verdade ou não, talvez seja mais uma questão de opinião, mas que seus trabalhos são dotados de uma energia, vibração e identidade que poucos artistas do metal conseguem atingir, isso sim pode-se dizer. “Give Me Your Soul...Please” honra cada letra da palavra ‘heavy’ e deve ter agradado em cheio à grande maioria dos que cultuam Diamond.O conceito do álbum parte da história de dois irmãos, uma menina e um garoto, mortos provavelmente pela mesma pessoa, ainda que exista uma incerteza se o irmão teria cometido suicídio. Todo o andamento da história a partir de então gira em torno da garotinha que busca uma forma de evitar que a alma de seu irmão vá parar no inferno. Quem nos conta essa história é Diamond, muitíssimo bem acessorado pelas guitarras de Andy LaRocque e Mike Wead, o baixo de Hal Patino, a batera de Matt Thompson e a voz de Livia Zita. A capa foi inspirada em uma pintura chamada “My Mother’s Eyes”, com a singela imagem de uma jovem garota usando um vestido todo ensangüentado e segurando dois olhos em suas mãos.
O disco segue com “Devil Seed”, que tem um andamento mais arrastado e linhas simples, elementos típicos do Doom dos suecos. A faixa parece saída de um filme de terror e remete bastante ao som que o Black Sabbath fazia em seus primórdios. A voz de Lowe trás um desespero especial, ainda mais nesta faixa, que tem a letra falando do vazio existencial. Enquanto isso, “Of Stars and Smoke” tem tudo que o Candlemass costuma fazer, mas um refrão mais melódico, muito bom também.
Outros bons momentos vêm em faixas como “Demonia 6”, “Man of Shadows”, com grandes solos de Johansson e um refrão bem dark, além de “Clearsight”, que mostra linhas de vocal muito boas por Robert Lowe. Para encerrar, uma intro instrumental para a faixa mais longa do disco, a épica “Embracing the Styx”, com oito minutos. Além do clima grandioso, há muitas variações, como um momento só no baixo – cheio de distorção – e o final mais lento, no violão.
Talvez o único porém do disco fique na parte de produção. No geral, tudo é muito bom, pesado, mas poderia haver esta preocupação também com a bateria de Jan Lindh. Apesar da precisão segurando o ritmo, em alguns momentos as faixas pedem mais e as batidas ficam um pouco “escondidas” atrás das guitarras, sempre em primeiro plano.
O belo bônus da edição fica com os dois clássicos do Candlemass “Solitude” e “At the Gallows End” – creditados fora de ordem na contra-capa –, regravados na voz do novo integrante. O resultado é muito bom. Claro que pinta uma saudade das versões originais, já que elas já estão gravadas nas mentes do fãs da banda, mas dizer que Lowe faz um serviço ruim é simplesmente impossível. E a gravação bem crua, 100% real, só dá mais crédito à atual formação dos suecos.
O My Dying Bride sucumbiu ao peso das críticas negativas que choveram sobre "34.788%... Complete" de 1998. Depois disso, a banda voltou a usar o antigo logotipo, lançou aquele que seria considerado sua redenção ("The Light at the End of the World", de 1999) e, em seguida, partiu para consolidar-se novamente com este "The Dreadful Hours", lançado originalmente em 2001.A primeira grande mudança em relação aos dois álbuns anteriores é a saída de Calvin Robertshaw (G), que estava com a banda desde seu início, sendo substituído por Hamish Glencross (ex-Solstice). A participação especial de Johnny Maudlin (tecladista do Bal Sagoth) contribui para transformar este álbum em algo além de uma mera continuação do excelente "The Light at the End of the World". Aaron Stainthorpe conseguiu criar um trabalho inovador, sem dúvida, mas sem deixar de lado as melhores características presentes nos melhores discos da banda. Para resumir a história, podemos arriscar que "The Dreadful Hours" soa como uma mistura muito bem sacada entre os clássicos "The Angel and the Dark River" (1995) e "As the Flowers Whiters" (1992)
Do ponto de vista exclusivamente musical (comentar as letras de Aaron Stainthorpe é um desafio muito grande, diante do qual, humildemente, me calo), este disco é bem mais intenso que o anterior. Embora esteja cheio de passagens "típicas" do Bride, em que uma guitarra hipnótica fica fazendo a cama para o teclado e as vozes de Aaron, há uma dose maior de elementos antigos recorrentes no som da banda. O próprio uso de vocais agressivos é muito mais freqüente (Até mais que em "Turn Loose the Swans" de 1994, considerado um trabalho de transição).



















